quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Slow Parenting - Pais sem pressa



Pais Sem pressa!Por Ana Esteves

O movimento Slow Parenting defende que «menos é mais»: menos coisas, menos actividades, menos pressa, menos pressão, menos expectativas. Mais tempo para crescer fará as crianças mais felizes.
Quem teve uma casa na árvore, leu a Pipi das Meias Altas e ainda se lembra dos dias intermináveis das férias grandes sabe do que se trata. A infância das crianças de hoje é bastante diferente da dos pais: pela pressa constante, pela falta de disponibilidade para estar com elas, pelo tempo todo controlado, pela pressão de serem os melhores em qualquer coisa. Mas há quem tente pôr um travão neste frenesim, desacelerar um pouco e devolver às crianças o que a infância tem de melhor: tempo para crescer e descobrir o mundo. 
O movimento Slow, que defende e procura um abrandamento do ritmo de vida actual e faz o elogio da lentidão como forma de melhor apreciar as coisas boas, também chegou à educação. «Trees makes the best mobiles» (As árvores são os melhores mobiles) foi o livro que mudou a forma de encarar a maternidade de algumas estrelas de Hollywood: Gwyneth Paltrow descobiu-o quando a sua filha Apple era bebé e a partir de então oferece-o a todas as amigas que vão ser mães. As formas mais simples de educar num mundo tão complexo atraíram também Laura Dern, Heidi Klum, Courtney Cox e Susan Welsh. Como resistir à pressão de comprar demasiadas coisas que se tornam ruído para um bebé e à tentação de estar sempre a mostrar-lhe coisas novas, a acelerar o seu desenvolvimento e as suas descobertas, são algumas das propostas deste livro. 
Outra obra que contribuiu para o movimento Slow Parenting foi «What Mothers do: Especially when it looks like nothing» (O que fazem as mães: especialmente quando parecem não fazer nada), de Naomi Standler. Segundo a autora, as mães não devem encarar o bebé na lógica de mais uma lista de «coisas a fazer». Quando estão apenas a contemplar o seu filho pode parecer que estão a fazer nada, mas afinal estão a fazer o mais importante: descobri-lo, conhecê-lo e deixá-lo ser ele mesmo. 
Brinquedos simples 
Substituir brinquedos electrónicos cheios de ruídos e estímulos por simples pauzinhos, folhas, pedras ou conchas é um dos mais importantes conselhos do Slow Parenting. Não devemos apressar as crianças e os defensores da lentidão abominam especialmente os brinquedos que prometem ensinar-lhes rapidamente muitas coisas, seja vocabulário, uma segunda língua, ou como somar e subtrair. Não devemos esperar nem agir como se os nossos filho fossem pequenos génios que têm de fazer tudo antes dos outros. Depressa não é forçosamente bem. Cada coisa a seu tempo e sobretudo, no ritmo certo, afirmam os «slow parents». 
Tempo para brincar e estar sem fazer nada 
Gastar dinheiro em múltiplas actividades quase desde o berço é outras da realidades do mundo moderno contestadas pelos defensores da filosofia da lentidão e do «menos é mais» aplicada à educação. É mais importante que as crianças tenham tempo para actividades livres, não organizadas, do que tenham os dias todos ocupados com actividades estruturadas. Informática e ballet aos três anos parece muito apelativo, mas na verdade não tem vantagens nenhumas, é mais uma despesa e rouba tempo ao que é realmente importante: brincar e interagir, sobretudo com os pais. 
Aliviar a pressão de pais hiper-activos 
Mais recente foi a pulbicação de «Under Pressure: Rescuing Our Children from the Culture of Hyper-Parenting» (Sob Pressão: como Salvar as Crianças da Cultura dos Hiper-Pais), de Carl Honoré, um dos gurus do movimento Slow. O jornalista e autor de «In praise of Slow» (O Elogio da Lentidão), dedicou-se a analisar a forma como são educadas as crianças na nossa sociedade de consumo, onde a pressa é constante. Honoré considera os pais de hoje hiper-activos e defende que é preciso salvar as crianças desta vertigem constante e devolvê-las à infância - que deve ser um lugar de calma e de tempo a perder de vista. 
Alguns dos conselhos de Carl Honoré: 
Deixar as coisas acontecer em vez de estar sempre a programar
  • Deixar as crianças correr alguns riscos em vez de os transportar numa agenda sem intervalos de uma bolha de segurança para outra.
  • Não pretender controlar tudo. Deixar tempo livre às crianças para que possam desenvolver a sua criatividade. Carl Honoré pretendia inscrever o filho em aulas de expressão plástica, depois de a professora o informar que a criança era muito dotada para as artes. O filho, com sete anos, disse-lhe: «Pai, porque é que os adultos têm de controlar tudo? Eu só quero desenhar e pintar, não preciso de aulas para isso».
  • Recusar a pressão de ter de oferecer aos filhos uma infância perfeita. Isso não existe, tal como não existem pais perfeitos.
  • Dê aos seus filhos espaço e tempo para explorar o mundo à sua maneira. É assim que as crianças aprendem a pensar, a inventar e a socializar, a ter prazer nas coisas que fazem, a desenvolver o que são em vez de tentarem apenas cumprir as expectativas dos pais.
  • Dê muito amor, atenção e disponibilidade. Sem condições. 
O autor afirma que a principal razão para escrever este livro foi pessoal, pois precisava de arrumar as ideias de forma a alterar a sua forma de ser pai. Um dia descobriu um livro que resumia histórias infantis clássicas para que os pais pudessem lê-las em 60 segundos, na hora de deitar. A sua primeira reacção foi pensar «Boa ideia!» Então percebeu a loucura em que os pais de hoje andam, ele incluído. Era preciso mudar, a bem dos seus filhos. 
Nas sua investigação, visitou creches em Itália e na Escócia, um laboratório de pesquisa de brinquedos na Suécia, escolas na Finlândia e em Hong-Kong, colégios em Inglaterra e nos Estados Unidos, clubes desportivos um pouco por todo o lado. Chegou à conclusão de que a ambição desmedida dos pais que pressionam os filhos, em todas as idades, é um fenómeno global. 
O livro procura mostrar como é possível encontrar um equilíbrio no ritmo de vida familiar de modo a que a infância deixe de ser uma corrida para o sucesso. A tentativa constante de dar aos filhos tudo o que há de melhor corta-lhes a possibilidade de aprenderem a tirar partido daquilo que têm. E essa é a melhor lição de vida que podem ter. 
Tendo em conta o investimento de tempo, energia e dinheiro que se faz hoje em dia nos filhos, a geração de crianças actual devia ser a mais saudável e feliz de todos os tempos. Mas tal não acontece. Carl Honoré aponta a obesidade por um lado e as crianças que praticam desporto de forma demasiado intensa, por outro. Nem uns nem outros são saudáveis e felizes. E por isso nunca como hoje houve tantas crianças depressivas, ansiosas e com baixa auto-estima. Adoptar um estilo parental mais descontraído, sem pressão e sem pressa, pode parecer difícil. Mas é possível. As férias são decididamente uma boa altura para pensar no assunto.
Para saber mais:
«Trees makes the best mobiles: simple ways to Raise your child in a complex world», Jessica Teich e Brandel France de Bravo, St. Martin's Griffin, 2002

«What Mothers do: Especially when it looks like nothing», Naomi Standler, Piatkus Books, 2004

«Letting Go, as Children Grow», Deborah Jackson, Bloomsbury Publishing PLC, 2003

«Do Not Disturb: Benefits of Relaxed Parenting for You and Your Child», Deborah Jackson, Bloomsbury Publishing PLC, 1993

«In praise of Slow», de Carl Honoré, 2004. Tornou-se a bíblia do movimento Slow. Em Portugal, o livro foi editado pela Estrela Polar sob o título «O movimento Slow».

«Under Pressure: Rescuing Our Children from the Culture of Hyper-Parenting», Carl Honoré, HarperOne, 2008

10 comentários:

  1. Como disse a minha prima MIchelle, achei esse texto espetacular!
    Excelente.
    Penso exatamente assim, porém as vezes saio desse pensamento querendo que os meninos passem adiante.
    Vou inclusive me policiar quando sair da linha.
    Tudo a sua hora.

    Xeros

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  2. Prima, na nossa infância tivemos muito tempo para brincar, para ser criança mesmo!! Foi muito bom!! Hoje até as crianças têm uma agenda intensa com tantos compromissos. E cada vez o mundo tá com mais gente estressada, correndo feito louco, com depressão,... e por aí vai. Temos que ter tempo para a gente, para a nossa família, para ser feliz!!! Bjsssssssss, Michelle&Liz

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  3. Oi, Karla

    Só quem teve esse tipo de infância sabe entender muito bem o assunto do texto.
    Espetacular!
    Deixar a criança viver a sua infância, não pular etapas é muito necessário para o seu desenvolvimento.
    Adorei.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  4. Perfeito texto. Sou muitas vezes apressada com relação ao desenvolvimento de Rubens. Tudo tem seu tempo mesmo.
    Dificil é controlar nossas ansiedades,mas eu aprendo. ótimo post.
    beijão

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  5. Muito bom esse texto, acho sim que tem que desacelerar,o problema maior é muitos pais trabalharem tanto e não terem tempo para desenvolver nenhum tipo de atividade com os filhos
    Em cidades grandes, executivos e empresários mal conseguem estar com os filhos fim de semana!
    Beijos e um ótimo dia pra você"

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  6. Ana
    Estou passando aqui para te chamar para um sorteio que estou fazendo lá no blog, é 1 jantar com direito a acompanhante no Dalí Cocina, em Recife.
    Vem participar é só deixar um comentário no post do sorteio.
    Beijos
    Patty Martins

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  7. Adorei!
    Penso muito nisso.
    O quanto meu filho está perdendo de infancia por viver no mundo de hoje a onde as disputa já começa no berço e são obrigada a crescer em apartamentos sem pode brincar na rua.
    Tento compensar de algumas maneiras mas sei que nada chegará a infancia que muitos de nós tivemos.
    Mas esse movimento é muito válido para tentar resgatar um pouco disso.
    Beijos!

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  8. Olá Ana,
    Muito bom seu texto...Queremos sempre pula etapas...
    Tenha um ótimo final de semana.
    Bjs mil

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  9. Bárbaro criança precisa ser criança, pois terá uma vida inteira para ser adulta, brincar é maravilhoso.
    Beijo Lisette

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  10. Muito legal o post, Xeros! Bacanérrimo! Um abraço.

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