quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Crítica de Ariano Suassuna - Desculhambação

Imagem da internet


Recebi esse e-mail de uma amiga, não sei a veracidade. Segue abaixo:


‘Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.
Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá:



  • Calcinha no chão (Caviar com Rapadura),
  • Zé Priquito (Duquinha),
  • Fiel à putaria (Felipão Forró Moral),
  • Chefe do puteiro (Aviões do forró),
  • Mulher roleira (Saia Rodada),
  • Mulher roleira a resposta (Forró Real),
  • Chico Rola (Bonde do Forró),
  • Banho de língua (Solteirões do Forró),
  • Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal),
  • Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada),
  • Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca),
  • Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró),
  • Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró).
Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas. Porém o culpado desta ‘desculhambação’ não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.
Aqui o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na platéia’, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é: ‘É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Ariano Suassuna



Sem mais.


8 comentários:

  1. Sou "devota" do Ariano Suassuna, mas hoje, se eu pudesse citaria para ele Mario Quintana:

    Todos estes que aí estão
    Atravancando o meu caminho,
    Eles passarão.
    Eu passarinho!

    Mario Quintana

    Bjs.

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  2. Achei bem interessante esta crítica,revela a verdadeira cara que o país está tomando,tô de volta,enfim,belo texto.
    abraço !

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  3. Olá! Vi seu perfil no blog da Fabiana, que fala de esclerose múltipla. Gostei do seu blog e mais ainda desse post. Concordo plenamente!
    Convido vc a visitar meu blog.
    Ah! Tenho uma irmã que mora em Olinda e sua filhinha nasceu aí! É pernambucana mesmo! Quando passeei por aí, estava grávida do meu segundo filho e adorei tudo, mesmo com inchaço nas pernas por causa do calor!...
    Até breve!
    Maíra

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  4. Oi Aninha...

    eu amoooo o Ariano suassuna, seu jeitinho brejeiro de falar, sua malía nas palavras... Tem um vídeo dele na internet - youtube - que é supimpa, vc iria amar, porque ele fala desse tema com a mior descontração...rs

    e esse tema que ele toca é da maior demonstração do que esses jovens estão se tornando, uma pena... Funkeiros, cahorras, mulheres fruta, créu... uma baixaria total....blergh

    Sem contar que o cara é altamente politizado, sempre foi fiel escudeira da verdadeira esquerda, vota em Lula... O coroa é uma figura...

    Beijoooo

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  5. Viva Ariano e sua genialidade e autenticidade. Guardemso textos e cronicas e palestras para mais tarde mostrar e ensinar aos nossos filhos saber o sentido real de discernir o que é o joio e o que é o trigo.
    beijo e passando para "curiar"

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  6. Muito bom este post amiga, eu realmente sou preconceituosa e abomino estas músicas... Olha desculpa não ter vindo aqui antes, mas o show do A-Ha é dia 18 e os ingressos compra na Renner. Se vc for ficar na pista vip (R$120,00) a gente se encontra, ok?
    Um cheiro.

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  7. Ana Karla, não sei da veracidade desse texto, mas tudo o que está aí, é verdadeiro. É triste, contudo verdadeiro. A boa notícia é que nós podemos reverter essa situação. É só boicotar esse repertório e não dar a mínima atenção ao que fazem (nem nossos filhos, é claro!). Ana Karla, adorei o seu blog. Também vou seguí-lo, ou melhor, perseguí-lo.
    Quanto à Cibele, faz um bom tempo que não tenho contato com ela. A última vez que conversamos ela disse que ia minimizar as visitas ao blog por causa das férias das crianças. Um dia desses eu entrei no blog dela e percebí que não mais existia. Então perdí o contato. Ela tem meu e-mail (está na frente do blog), mas não tenho o dela. Se souber se algo aviso você. Seja muito bem vinda no meu blog. Gostei muito de sua presença. Um beijo com carinho. Manoel.

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  8. É isso aí gente, o Ariano diz tudo e todos nós que não aprovamos essas babozeiras temos como dever ignorar e ensinar o melhor aos nossos filhos, sobrinhos, netos, afilhados, enteados.
    Xeros carinhosos a todos.

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